Iron Woman | 1x02 - "Terror"


Uma obra de: Senhorita Stark
Inspirado em personagens da Marvel Comics



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Junho de 2009
MARROCOS.
De algum jeito meio sobrenatural e estranho, eu sinto que o Marrocos, bem como quase toda essa região do oriente médio, me faz entrar mais em contato com a minha mulher interior. E não estou falando como se eu não fosse; eu odiaria não ser mulher apesar de viver como uma nesse mundo tão opressor. É como se uma energia que vem dessas mulheres, andando por aí com suas burcas e cheias de lenço e mistério, irradiasse sobre mim. Mas não espere que eu ande por aí toda coberta e me submeta a um homem para o resto da vida; eu não me imagino assim. Eu só gosto muito de estar em companhia das mulheres marroquinas, elas me ensinaram tanta coisa e a energia que elas passam é muito boa, diferente das americanas. Pelo menos foi a impressão que eu tive depois de passar alguns dias entre elas, na casa de Khadija, uma amiga minha marroquina que servia o exército americano, mesmo a contragosto da família. Mas infelizmente tive que sair do conforto daquele lugar para outro ponto do oriente médio, onde o dever me chamava.
AFEGANISTÃO.
Era duas horas da tarde quando dirigíamos selvagemente nosso jipe militar por aquela estrada deserta no meio do Afeganistão. Eu e um grupo de amigos meus do exército devidamente uniformizados. Diferente deles, eu vestia a clássica camisa branca de botões, uma calça jeans escura e Scarpin preto com solado vermelho. Nosso comboio militar seguia tranquilamente pela estrada, onde aproveitávamos alguns momentos de descontração e sensação de liberdade. Ligávamos o som e curtíamos nossa playlist como se não houvesse amanhã. Para nós, jovens ainda, era libertador não ter ninguém por perto, como em uma autoestrada americana, sem guardas para nos pararem e principalmente longe de reuniões formais.
— Troca o som aí, Mr Bob. – Eu dizia sentada no banco de trás para o bobo do meu colega da mesma infantaria minha. A janela aberta, deixando com que meus cabelos negros dançassem com o vento. Não me importava com a poeira da estrada, pois um de meus vários óculos escuros protegia meus olhos verdes.
— Enjoou dessa música, Tasha? – Ele disse. Esse era o meu principal apelido que eu me lembro que a galera adorava me chamar, além de Princesa Léia.
— Nunca enjoo das músicas desse cara, apesar de evitar topar com ele em festas de celebridade. Ele não faz o meu tipo. – Olhei o painel luminoso com a lista de músicas que ele tinha, escolhendo uma, esticando meu braço direito e apontando meu dedo para a faixa musical. – Ahh... toca essa aqui.
E todos concordaram, fazendo aquela algazarra, ainda mais quando a música começou a rolar. Dançávamos do nosso jeito, sentados na poltrona, parecíamos adolescentes. Depois eu peguei uma pequena taça de vidro e me servi de Vodka com laranja, uma de minhas bebidas favoritas.
Lembro-me que trinta minutos depois, o rapaz que estava ao meu lado, Derex, um fuzileiro naval, me fez algumas perguntas sobre mim, como se trabalhasse para uma revista de fofoca.
— É verdade que você saiu com aquele ator daquele filme?
— Sim, eu saí com ele. – Dei uma risada orgulhosa, ele era um dos meus favoritos pelo jeitão engraçado, carismático e beleza jovial. Fazia bem o meu tipo. Então me lembrei de outro boy, parecido com ele, com quem eu estava tendo um rolo bem quente. E ainda estou. – E também com Johnny Storm.
— O do Quarteto Fantástico? – Perguntou Khadija, que dirigia o Jipe e cada vez me deixava mais orgulhosa. Toda empolgada.
— É sim. – Esbocei um longo sorriso, balançando a cabeça positivamente. – O Tocha Humana.
— Cara, tu é uma mulher de muita sorte mesmo, Tasha. – Khadija disse, impressionada. – Ter na palma da mão, ajoelhados aos seus pés qualquer homem do planeta não é pra qualquer um.
— Não é pra tanto. – Dei mais um trago na bebida e depois continuei falando. Tirei os óculos escuros e olhei nos olhos dela. – Não só você, como várias pessoas falam como se ter um homem fosse o maior privilégio na vida de uma mulher. E eu discordo veemente. Você é uma mulher e está no exército americano porque acredita e sua capacidade e sabe que pode ser tão boa quanto um homem, realizando as mesmas funções. Então pra quê se rebaixar desse jeito, fofa? – Quando terminei de falar, o silêncio das vozes humanas imperou, deixando espaço só para a música que tocava.
O silêncio de repente foi interrompido por uma explosão bem próxima de nós, vinda de algum lugar. A música se foi na mesma hora que todo aquele clima de descontração. O coração quase saltou pela boca e entrei em estado de alerta. A pequena taça com a bebida se perdeu da minha mão em algum ponto no chão daquele Jipe, junto com os óculos escuros. O Jipe à nossa frente explodiu bem diante de nossos olhos. Fogo e calor. Pela primeira vez eu presenciei o terror.
— O que é isso? – Entrei em pânico.
— Ataque à esquerda. – Berrou Khadija.
Khadija saiu do Jipe e foi alvejada. A dor maior foi em meu coração. O rapaz ao meu lado, Jimmy, foi ordenado por Bob para me proteger antes de sair do veículo e também ser atingido. Bob me mandou ficar abaixada e assim o fiz. Ao sair, ele também teve o mesmo fim dos demais soldados. Eu tentei impedir, mas ele foi. Ao me reerguer e me ver sozinha, dentro de um Jipe todo esburacado pelas balas, poeira e fumaça no ar, fui tomada por uma onda de terror e choque. Eu não sabia se gritava ou se chorava, apenas tremia e respirava acelerado por alguns instantes.
— O que tá havendo? Alguém me ajuda. – Murmurei bem baixo. Senti a ardência nos olhos e as lágrimas vieram.
Olhando mais ao redor, vi dolorosamente o resto de meu comboio sucumbir ao fogo e ás rajadas de tiros, mas mal consegui identificar os responsáveis. Raiva e tristeza me definiam. Reagi, saindo do Jipe, procurando uma forma de me esconder e sair da mira dos terroristas. Estava bem assustada, atordoada e minhas pernas bambas, mas ainda assim minha adrenalina permitiu que eu continuasse a correr, tirando meu Scarpin para facilitar os movimentos. Não era hora para elegância e glamour em uma zona de guerra.
Eu agora estava descalça, sentindo a terra em meus pés. Mais uma explosão bem perto de mim me assustou e saltei, parando atrás de uma rocha, grande o suficiente para me abrigar. Apesar disso, uma linha de tiros quase atingiu meus pés. Me permiti chorar um pouco para aliviar, deixando as lágrimas encharcarem meu rosto e tirar a agonia de meu peito. Pendia a cabeça para trás, encostando a na rocha e sugava o ar, na tentativa de me acalmar o mais rápido possível para analisar melhor a situação e tentar fugir. Lembrei-me de Peggy Carter, minha boa e velha tutora dizendo-me para me manter firme e forte, sem sucumbir ao desespero, não importa a situação. Um sábio conselho, vindo de uma veterana de guerra como ela que me lembrei de pôr em prática no mesmo instante. Reagir antes, chorar depois.
Tirei rapidamente meu celular do bolso para pedir ajuda, quando um míssil caiu ao meu lado direito. O rastro de fumaça atrás dele. Ao virar meu rosto, com o barulho do objeto caindo eu gelei na mesma hora; o logo das Indústrias Stark estampado bem em cima da arma, fabricada por minha companhia. Como? Eu sempre jurei que fabricava armas para auxiliar as forças especiais da América e naquele instante eu me deparei com a mais dura e cruel realidade: Eu não estava tendo controle total sobre a empresa que herdei de meu pai, que confiou em mim e agora as armas mais poderosas do mundo estavam na mão de terroristas. Me senti podre por dentro. Amigos meus foram mortos por elas e provavelmente muito mais gente foi morta pela minha indústria bélica. Raiva, terror e tristeza me consumiam.
Todo aquele pensamento me veio em questão de segundos, até que o míssil explodiu, jogando meu corpo alguns metros para a esquerda. Eu caí de barriga pra cima e mechas do meu cabelo quase cobriam meu rosto. Dei um gemido agonizante, sentindo meu peito doer e arder bastante. E então, depois de alguns segundos, eu senti algo molhado e levemente frio. Abri minha blusa branca, sentindo-a úmida e quando olhei para meu “colete à prova de balas” interno, vi manchas de sangue cada vez maiores que as que estavam na blusa. Eu tremi de pavor.

É o meu fim.
...
Um pano, mais parecendo com um saco de batatas cobria minha cabeça. Tudo o que eu conseguia ver antes daquela coisa ser retirada da minha cabeça era uma certa luminosidade e tudo o que eu ouvia eram vozes de um homem falando em idioma árabe. Não fazia a mínima ideia do que estava dizendo, eu ainda não havia aprendido aquele tipo de idioma. Eu me sentia zonza e fraca, qual foi a última vez que eu comi? Jarvis com certeza saberia a resposta. Quando o capuz de pano foi retirado, fui atordoada mais uma vez por uma forte luz na minha cara, como num ensaio fotográfico, porém eu estava entre terroristas fortemente armados, sentada em uma cadeira, o peito todo enfaixado, rosto um pouco machucado e descabelada. Diante daqueles homens armados eu não senti um pingo de medo ou pavor, apenas ódio. Eu já havia chorado o suficiente, agora era a hora de reagir.
Um homem falava enquanto havia uma câmera gravando aquele show de horrores.
Quanto será que estavam pedindo pela minha liberdade? Alguns milhões? Nem me dei ao trabalho de calcular, só me passava uma coisa pela minha cabeça: Descobrir como tudo isso começou.

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